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quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Praça Paris.

Praça Paris (Paris Square).
Brasil/ Portugal/ Argentina, 2017, 110min. Português.
Direção: Lucia Murat.
Ontem foi a primeira exibição em São Paulo do filme Praça Paris, que faz parte da 41ª Mostra Internacional de Cinema.
“Praça Paris” ganhou no Festival do Rio os prêmios de Melhor Direção, para Lúcia Murat, e Melhor Atriz, para Grace Passô. A coprodução Brasil-Portugal-Argentina é um thriller que mostra o conflito entre uma psicanalista portuguesa, Camila (Joana de Verona), que está no Brasil para estudos de pós-graduação na UERJ, e começa a atender Glória (Grace Passô), num Centro de Terapia da  universidade. Glória é ascensorista na universidade e tem um histórico de violência muito difícil: estuprada pelo pai, tem apenas o irmão, Jonas (Alex Brasil), chefe do tráfico, que  se faz presente e exerce enorme influência sobre sua vida, mesmo estando preso.  O filme mostra uma relação de transferência ao inverso, onde o medo do outro acaba dominando a trama.
Depois da exibição do filme, aconteceu um debate que contou com a presença de Grace Passô e Digão Ribeiro, que formam um dos casais protagonistas do filme.
Abaixo segue um pouco sobre o que Grace e Digão comentaram sobre diversos temas relacionados ao filme Praça Paris.
Grace:   A preparação para o filme normalmente se faz na relação entre roteiro e atores e direção. A gente partiu de leituras exaustivas do roteiro, e é importante dizer que tivemos uma preparadora. O filme trata de  questões extremamente complexas e dentro de um universo simbólico também muito complexo. Simbolicamente o fato da psicanalista ser portuguesa, o fato de quem é analisada ser uma mulher negra (do morro do Rio de Janeiro), o fato da violência permear a retratação do Brasil,  de um olhar do colonizador. 
O filme trata de muitas questões e a gente foi correr atrás, a Lucia, a preparação e a gente sobretudo através da linguagem e da atuação.  A gente foi correr atrás de tentativas de vencer determinados estereótipos ou sobretudo de dar conta desse universo simbólico tão complexo que tem esse filme. E tentando através de um  estudo clássico de roteiro entre atriz, direção e roteiro, entender como vencer os estereótipos.
É impossível não falar sobre essas questões numa sala de ensaio, em um processo de ensaio sem a gente discutir questões que são fundamentais e estruturais da nossa formação, como por exemplo o racismo. 
A Lucia tem um histórico e uma pratica ativa e muito aberta, em relação em conversar sobre a realidade brasileira  e entender quais que são as possibilidades dessa retratação e o que a linguagem cinematográfica abarque isso.
Infelizmente Lucia Murat não compareceu por motivos de saúde.
Grace: Faço teatro a quase 23 anos, sou atriz, dramaturga, diretora, mineira apesar de fazer uma carioca no filme.
Não conheço  a realidade do Morro carioca e o encontro com Digão foi extremamente interessante. Acho que também, por um modo de tentativa de sobrevivência ao próprio racismo brasileiro, a minha família durante a minha criação, tentou a todo custo me deixar longe de determinados lugares (Morros de BH). Isso é um ato extremamente questionável hoje, porque se eu tivesse filho hoje, eu os levaria.
A convivência com Digão foi muito boa porque e também no filme foi extremamente importante para estar no Morro da Providência, conhecer, vê como se articula a produção do filme para estar lá, a relação que se tem com o cinema no Morro, nessa comunidade com uma produção cinematográfica.
Digão: Meu nome é Digão (Diego Ribeiro), tenho 21 anos, ator, formado pela escola de teatro Martins Pena,  escola mais antiga de teatro da América Latina com 108 anos de história. Sou professor de teatro graduado e vim do RJ, da Cidade de Deus. Quando se fala sobre isso, do meu ponto de vista eu acredito que nossa sociedade esta cansada de ver retratada determinados assuntos, que de tanto falar acaba ficando maçante. Eu que vim da comunidade, enxergo hoje que existe uma energia muito forte para que as pessoas da comunidade permaneça na comunidade. Até de dentro da Comunidade as pessoas tem esse pensamento. 
Quando a gente fala da questão da comunidade, a gente tem que entender que por mais que seja maçante, e a gente não encontre solução, é essa a solução. Eu acho que o filme trás essa proposta de mostrar a realidade e descobrir a solução aqui juntos, debatendo, conversando, chegar a conclusão.
Infelizmente enquanto eu morar no Rio de Janeiro, no Brasil e ver todo dia noticia do que não tem nada mais perigoso para mim, do que ser um jovem negro, eu preciso falar sobre isso, de verdade.
Grace: É muito difícil fazer cinema no Brasil, estou falando nesta condição como mulher negra. A gente  que é negro/negra no Brasil, vive dentro, mergulhado numa espécie de tortura simbólica diária, isso na mídia, enfim, nas próprias linguagens artísticas. E o cinema de um modo geral, tem passado por uma espécie de revolução. Que vem acontecendo no Brasil e que vem, através de uma militância que esta ligada a vários movimentos, não um movimento e sim a vários negros e negras em movimento, que produz em redor disso,  uma espécie de farol na nossa sociedade. E eu sou nada mais, nada menos, fruto de uma luta muito grande de militâncias. 
Digão, Grace Passô e produtora Gabriela.
Elenco: Grace Passô (Glória), Joana de Verona (Camila), Alex Brasil (Jonas), Digão Ribeiro (Samuel), Babu Santana (Pastor), Marco Antonio Caponi (Martin).
sessões em São Paulo:
Domingo, 29/10 15:20 Espaço Itaú Frei Caneca 5
Segunda, 30/10 15:30 Cinearte 2

41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.